Linguagem do Advogado
Theotonio Negrão
Transcrição de palestra aos alunos do 3º ano da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, em 11-11.86. Cadeira de Direito Processual Civil I. Reprodução de texto gravado, conservada a linguagem, apropriada aos estudantes do 3º ano (Nota S. A. B.).
Prezado Prof. Dr. Calixto Antônio, prezado Prof. Dr. Sidnei Beneti, meus alunos.
Confesso que estou um pouco preocupado por ter que falar coisas a vocês, porque não tenho o hábito de fazer palestras. Sou um advogado militante há quarenta e tantos anos, tenho o hábito de falar aos juízes nos Tribunais, mas não o de falar aos estudantes de Direito.
Quanto aos juízes, tenho a dizer o seguinte: nem sei mesmo se sou bem ouvido, porque geralmente, depois que faço minhas sustentações, os juízes “acordam”. Leio sempre, no final das decisões coletivas, que os juízes “acordam”... A impressão é a de que não me devem ouvir com muito prazer. Peço, por isso, a indulgência de vocês, e esta indulgência deve ser revestida de um certo tom sentimental, porque, voltando a São Bernardo do Campo e encontrando aqui meu querido Prof. Dr. Calixto Antônio, sou levado ao passado, a 1961, quando tive a honra de presidir aqui um Congresso de Associações de Advogados.Tivemos, naquela oportunidade, 15 entidades de classe que resolveram salvar o país; só que não tomaram muito conhecimento de nossa deliberação... mas a verdade é que fizemos o que estava ao nosso alcance.
O Prof. Sidnei Beneti me propôs o seguinte tema: “A Linguagem do Advogado”.
Sei por experiência própria, pois tenho ouvido uma porção de palestras, que o orador nunca se atém ao tema, e as partes mais interessantes são exatamente aquelas que estão de fora dele. Por isso, peço licença para não falar apenas sobre a linguagem do advogado. Falarei um pouco mais, também, sobre o estilo do advogado, sobre a conduta do advogado, que está mais ou menos ligada à linguagem do advogado, e que talvez seja mais importante que esta.