Lingua, Discurso e Politica FIORIN, 2009
José Luiz Fiorin
* (Verso de uma canção francesa, cuja letra foi escrita por Louis Houssot, citada por Machado de Assis numa crônica datada de
28/05/1885 – MACHADO
DE ASSIS, Joaquim Maria.
Obra completa. v. III . Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1979: 457.)
* (ARISTÓTELES. Politeia
(La política). Bogotá: Imprenta Patriótica de Instituto Caro e Cuervo, 1989: IV,
1, 1288b, 27.)
* (FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de
Janeiro: Graal, 1979.)
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Rien n’est sacré pour un sapeur.
Louis Houssot*
Introdução
Para discutir a questão das relações entre língua, discurso e política, é preciso primeiro saber o que é política. Os universos discursivos historicamente determinados fornecem categorias que permitem fazer um uso intuitivo desse termo: por exemplo, fala-se em greve política em oposição a uma greve reivindicativa; fala-se em Comissão Parlamentar de Inquérito política, quando se diz ou se insinua que sua motivação não é o exercício do poder fiscalizador do parlamento, mas é o jogo eleitoral. Nesse sentido, pode-se dizer que política diz respeito à obtenção, ao exercício e à conservação do poder governamental. Esse é um dos significados que Aristóteles dá à palavra: “... como foi possível um dado governo, qual foi sua origem e como, uma vez constituído, pôde sobreviver o maior tempo possível.”* A política concerne à esfera do Estado em oposição ao domínio privado.
Entretanto, a questão não é tão simples assim. Sua definição passa a tornar-se mais fluida no momento em que começam a ser elevadas a essa categoria certas práticas que não faziam parte da definição tradicional da palavra: fala-se em política do corpo, politizar a sexualidade, política de cotas, política de ação afirmativa etc. Ademais, depois de Foucault,* sabe-se que o poder não é uno, mas múltiplo. Ele não tem um lugar demarcado na tópica social, mas está por toda parte: nas instituições, no ensino, nas relações familiares, nos grupos