Libertinagem - Manoel Bandeira
Manuel Bandeira
Estudo da obra:
O título Libertinagem diz respeito ao total desregramento da linguagem no texto: liberdade, seja de conteúdo, seja de forma.
O livro oscila entre um fortíssimo anseio de liberdade vital e estética ("Na Boca", "Vou-me embora pra Parságada") e a interiorização cada vez mais profunda dos vultos familiares ("Profundamente", "Irene do céu", "Poema de finados", "Anjo da guarda") e das imagens brasileiras ("Mangue", "Evocação do Recife", "Lenda Brasileira", "Cunhantã").
A presença do biográfico é ainda poderosa mesmo nos livros de inspiração absolutamente moderna, como Libertinagem. O adolescente mal curado da tuberculose persiste no adulto solitário que olha de longe o carnaval da vida e de tudo faz matéria para os ritmos livres do seu obrigado distanciamento.
Os poemas em geral são de ordem popular (frases curtas, pontuação freqüente - textos eruditos têm menor pontuação). A oralidade é presença marcante no texto de Bandeira e os temas mais freqüentes dizem respeito à temática do cotidiano.
Em Libertinagem, Manuel Bandeira faz uso do não-me-importismo irônico, mas no fundo melancólico, para cantar os grandes temas inspirados em sua própria vida.
Seguem alguns trechos da obra:
MULHERES
Como as mulheres são lindas!
Inútil pensar que é do vestido...
E depois não há só as bonitas:
Há também as simpáticas.
E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto:
Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai da cozinha.
Como deve ser bom gostar de uma feia!
O meu amor porém não tem bondade alguma.
É fraco! fraco!
Meu Deus, eu amo como as criancinhas...
És linda como uma história da carochinha...
E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai
(No tempo em que pensava que os ladrões moravam no morro atrás de casa e tinham cara de pau).
PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise, dispnéia e suares noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
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