Liberdade e justiça
Demonstrar indignação é, de fato, um sinal indelével de que nem tudo está perdido. Prova existir a noção concreta, ainda que distante e quase imperceptível, de valores fundamentais à vida em uma sociedade civilizada _ pré-requisitos básicos na condição de seres humanos, além da centelha divina que nos infla a existência. Tais aspectos nos conferem a capacidade de alterar com precisão nossos destinos, agindo sobre os indivíduos particularmente, e sobre o corpo social que deles resulta. Contudo, é preciso ressaltar, que a plena manifestação destas habilidades só podem ser alcançadas sob o império de dois valores primordiais: liberdade e justiça.
Se o raciocínio acima estiver correto, a perda progressiva da capacidade de nos indignarmos reflete, indiscutivelmente, a odiosa deturpação do conceito de liberdade, assim como a disseminação imperiosa da injustiça e da impunidade entre nós brasileiros. O espaço que nos separa da liberdade é, decerto, proporcional à ausência de robustez e eficácia da justiça na realidade atual que nos encontramos. Note que liberdade e justiça caminham sempre de mãos dadas, juntas e inseparáveis, longe de nossas praias, assim como de nossos campos e bosques.
Nunca fomos capazes de conhecer a liberdade _ em seu sentido mais amplo _ por que jamais soubemos o que é justiça. Quando digo “liberdade”, refiro-me às possibilidades que todo homem ou mulher dispõe de fazer ou de vir a tornar-se o que melhor entender a bem de seus próprios interesses e da comunidade onde vive. Assim compreendido, a todos é possível alcançar os seus respectivos objetivos de vida, respeitadas as normas que equilibram, a contento, tantos interesses quantos são os seus responsáveis, realizando, no limite, um estado geral de “justiça”. A partir da interação entre os conceitos mencionados, emerge objetivamente um terceiro elemento, que sobrepuja os primeiros mantendo-os em perfeita harmonia funcional _ a “ordem”.
A tradição oriental ensina que “ser