Liberdade política e virtude cívica.
A noção de virtude na teoria política de Cícero está intimamente ligada as questões de ordem prática, principalmente no que se refere a participação política. Assim como a virtude, a idéia de liberdade política também é diretamente relacionada com a participação política. Através da articulação dessas noções, pretendo mostrar como a relação entre a virtude cívica e a liberdade política, em Cícero, está embasada pela idéia de uma prática política voltada ao bem comum.
Para Cícero a virtude tem um significado bem restrito, pois a virtude se afirma completamente apenas pela prática. Mas o sentido prático de Cícero se difere do sentido prático dos gregos, como Aristóteles por exemplo. Para os gregos a virtude deveria ser praticada no cotidiano, nas ações individuais, na ética. Para Cícero a virtude não é apenas algo a se estudar, contemplar, ensinar, ou mesmo praticar na vida pessoal; a virtude deve vir acompanhada de leis, deve ser obrigação de todo cidadão, ou seja, deve fazer parte da constituição de uma República. Cícero chega a afirmar que são as leis que legitimam a virtude:
“(...) a virtude afirma-se por completo na prática, e seu melhor uso consiste em governar a República e converter em obras as palavras que se ouvem nas escolas. Nada se diz, entre os filósofos, que seja reputado como são e honesto, que não o tenham confirmado e exposto aqueles pelos quais se prescreve o direito da República. De onde procede a piedade? De quem a religião? De onde o direito das gentes? E o que se chama civil, de onde? De onde a justiça, a fé, a equidade, o pudor, a continência, o horror ao que é infame e o amor ao que é louvável e honesto? De onde a força nos trabalhos e perigos? Daqueles que, informando esses princípios pela educação, os confirmaram pelos costumes e os sancionaram com as leis.”
A partir desse trecho fica nítido como a noção de virtude em Cícero é vinculada às leis. A lei, nesse caso, legitima aquilo que é