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Uma em cada sete brasileiras de até 40 anos já fez aborto, um número aproximado de 5 milhões de mulheres. Na faixa etária de 35 a 39 anos, a proporção é ainda maior: uma a cada cinco já decidiu abortar.
É o que revela uma pesquisa nacional inédita, financiada pelo Ministério da Saúde e realizada pelo instituto Ibope.
A reportagem é de Cláudia Collucci e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 22-05-2010.
No total, foram ouvidas 2.002 mulheres entre 18 e 39 anos, das capitais brasileiras e de municípios acima de 5.000 habitantes. Foram excluídas as que vivem na zona rural e as analfabetas – 454.374 brasileiras, segundo o IBGE.
O estudo mostra que 48% das mulheres que abortaram usaram algum medicamento e que 55% delas ficaram internadas em razão do procedimento.
O aborto é mais frequente entre as mulheres com baixo nível de escolaridade: 23% daquelas com até o quarto ano do ensino fundamental, contra 12% entre as que concluíram o ensino médio.
A proporção de mulheres que fizeram aborto cresce de acordo com a idade. Vai de 6% (dos 18 aos 19 anos) a 22% entre as de 35 a 39 anos.
“A pesquisa mostra a cara da mulher que aborta. Não é uma outra, é uma de nós. É a nossa colega, a nossa vizinha, a nossa irmã, a nossa mãe. Geralmente, tem companheiro e segue uma religião”, afirma a antropóloga Débora Diniz, professora da UnB (Universidade de Brasília) e uma das coordenadoras da pesquisa.
Religião
Na pesquisa, não foram observadas diferenças entre mulheres que pertencem a grupos religiosos distintos.
Para o ginecologista Thomaz Gollop, professor livre docente pela USP, os resultados da pesquisa revelam que os dogmas religiosos estão totalmente dissociados daquilo que acontece na sociedade e que a criminalização do aborto não impede que milhares de mulheres continuem adotando a prática.
Margareth Arrilha, diretora-executiva da CCR (Comissão de Cidadania e Reprodução), afirma que os dados refletem que as