Letras
BOAS PERGUNTAS MOBILIZAM CAPACIDADES DE LEITURA
PERGUNTA DIRIGIDA AO ALUNO PRECISA SER DELIMITADA COM CLAREZA, QUER DIZER, É PRECISO PENSAR O QUE SE PRETENDE, O QUE SE ORIENTA, E O QUE SE PÕE EM FOCO COM ELA
por Delaine Cafiero
Conversa entre um menino de 3 anos e um adulto: — Você conhece a minha mãe? — Não, não conheço não. — Ela é a Teresa. — E você, como chama? — Eu chamo ela de mainha, ué, ela é minha mãe... — Ah! Sei. E seu nome? Qual é o seu nome? — Mateus.
Ponto de partida Esse diálogo curto, que ouvi dia desses, me fez refletir sobre o papel das perguntas na compreensão: nem sempre a pergunta que fazemos orienta para a resposta que esperamos ouvir. Explicando com o exemplo: quando o adulto pergunta “E você, como chama?”, está querendo que Mateus se apresente, que diga qual é o seu nome. O garoto, no entanto, entende que o adulto quer saber como ele faz para chamar (ou evocar) a sua mãe. Alguém poderia argumentar que a ausência do se na pergunta do adulto é que gera ambiguidade para a criança porque tira a reflexividade do verbo chamar. No entanto, o fato de a pergunta não ter sido feita com o se, que apareceria numa frase da língua padrão, não parece ser o ponto. Se a pergunta fosse “Como você se chama?”, provavelmente, a resposta do menino seria a mesma. Explicação mais interessante é a que leva em conta o contexto cognitivo da criança naquela situação de comunicação. Ou seja, o que era o foco de atenção para Mateus naquele momento era a mãe, pois tinha acabado de dizer “Ela é a Teresa”. A pergunta que se seguiu mostra que o interlocutor adulto deslocou o foco de atenção da mãe para o garoto, e este não fez o mesmo deslocamento. Achando que o adulto ainda continuava a falar sobre a mãe, respondeu: “Eu chamo ela de mainha, ué, ela é minha mãe...”.
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Essa reflexão enseja pensar no ensino de Língua Portuguesa, mais especificamente no ensino de leitura nas séries iniciais do ensino fundamental. Logo que a criança se alfabetiza e começa a