ler e escrever em arte
Isabel Petry Kehrwald
Por muito tempo, a Educação Artística se constituiu em uma atividade escolar baseada estritamente no fazer gráfico/plástico da criança, desvinculada, salvo raras exceções, da origem desta área do conhecimento isto é, da arte em si. Aprendia-se arte sem ver arte, o que é o mesmo que aprender a ler sem ter acesso aos livros.
Você, eu e grande parte da nossa geração concluiu seus estudos sem ter contato com as obras de arte
(menos ainda com a arte brasileira, de difícil circulação), porque se entendia que as imagens poderiam prejudicar a preservação da espontaneidade e a livre manifestação infantil, objetivos da grande maioria dos professores. Assim, permanecemos analfabetos no que se refere ao mundo das imagens e dos objetos que fazem parte do acervo simbólico da humanidade e com o qual podemos aprender sobre o nosso passado, entender e transformar o presente e fazer projeções para o futuro.
No final da década de 1980, no entanto, surgiram, no Brasil, as idéias que deram corpo ao entendimento de que arte não é só expressão, mas é também conhecimento, é comportamento inteligente e também sensível, o que eliminou a dicotomia entre cognição e emoção e pavimentou o terreno para a circulação dos fundamentos de uma proposta de ensino da arte ancorada pela própria arte, em sua história, em sua apreciação e em seus fazeres. Esta proposta introduzida no Brasil por Ana Mae Barbosa (1991, p.
34), chamada inicialmente metodologia triangular e ora abordagem triangular “...enfatiza a necessidade de organizar o ensino das Artes Visuais no inter-relacionamento entre três eixos: o fazer artístico do aluno, a leitura da obra de arte e a contextualização histórica...”, ou, como sugerem os Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino de Arte (PCN-Arte) entre a produção do aluno, a fruição das obras e a reflexão.
Foi a partir da abordagem triangular que o termo “leitura” incorporou-se ao vocabulário dos