leitura
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Trata-se de um poema da segunda parte da coletânea de poemas de Fernando Pessoa e fala sobre o Mar Português.
Nesta segunda parte da obra que nos propomos analisar abordam-se o esforço heróico na luta contra o Mar e a ânsia do Desconhecido. Aqui merecem especial atenção os navegadores que percorreram o mar em busca da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio.
Em termos formais, constatamos que o poema é constituído por três estrofes, de quatro versos. Os versos são decassílabos heróicos com rima é sempre cruzada.
O poema poderá dividir-se em três partes. Na primeira está contido uma afirmação tripartida “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Os três termos seguem-se segundo a ordem lógica causa-efeito, associando a cada agente a sua ação. Pois sem a vontade do primeiro nenhum dos outros se concretizaria. Se Deus não quisesse, o homem e não sonharia e a obra não nasceria. A segunda parte poderá por sua vez subdividir-se em três momentos. O primeiro diz respeito à apresentação da vontade de Deus. Deus quer a terra unida pelo mar. O mar por sua vez é símbolo do mistério e do desconhecido, daí o uso de expressões como “desvendando a espuma” (desfazendo o mistério). O segundo momento referir-se-á ao homem. Aqui se desenvolve a ideia de que o homem sonha e põe em prática a vontade de Deus. Ele é o herói navegante em busca do caminho da imortalidade. Ele é aquele que sonha, que tem a visão e finalmente foi “desvendando a espuma”, ou seja realizou a obra. A terceira