leitura dirigida das trovas sois hua dama

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Leitura dirigida das trovas Sois hua dama, de Luís de Camões

Luís de Camões, nas trovas de grande engenhosidade Sois hũa dama, utiliza-se da forma poética labiríntica para colocar-se como leitor da poesia trovadoresca e compor uma releitura de como eram tratadas e retratadas as mulheres nela. Com isso, essa poesia (1) possibilita a guestalt de dois sentidos antagônicos e (2) contempla o lúdico.
Sobre o primeiro aspecto, é possível notar que o texto apresenta, a depender da maneira como é lido, dois entendimentos contrários. Se na horizontal, ligando os versos da estância da esquerda com a da direita e, assim, formando versos de arte maior, faz-se um elogio à dama. Por outro lado, se tomamos as estâncias como independentes e lemos na vertical, em redondilha menor, constrói-se o vitupério da dama, seguindo regras semelhantes às de Rengifo, ou seja, fazendo com que seja negado nos versos de arte maior o que se afirma nos de arte menos e viceversa.
É essa multiplicidade de direções de leitura devida à suspensão da linearidade discursiva que atribui a essas trovas certa ludicidade, pois constitui-se um jogo verbal e exige-se, então, um esforço ativo para a construção e decodificação do sentido pelo leitor, aludindo a um enigma.
Os dois aspectos definidores das trovas aqui em questão remetem à inauguração, através do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, de uma forma poética que, por fazer parte de um contexto de festividade, lazer e convivência social, isto é, a corte portuguesa, propõe-se a preencher a necessidade de diversão do homem e é, então, valorizada pela sua inventividade e por servir como entretenimento.
De fato, as trovas Sois hũa dama certamente exigiram de Camões grande habilidade artesanal para serem compostas e demandam certa sagacidade e dedicação do leitor para serem compreendidas em sua totalidade, pois, como demonstrado, constituem um jogo de linguagem através da ruptura da forma linear de leitura, o que possibilita diversos arranjos.

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