Leitura Crítica
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UMA VISÃO NEO-GRAMSCIANA DE LEITURA CRÍTICA:
CONTEXTO, LINGUAGEM E IDEOLOGIA
JoAnne Busnardo
Denise Bértoli Braga
Em busca de uma pedagogia de leitura crítica.
Originalmente, nossas investigações sobre leitura crítica foram centradas no ensino de língua estrangeira, enfocando a relação língua e poder no contexto do ensino de inglês no Brasil (Busnardo e Braga,
1987). Considerando a possível sujeição dos alunos brasileiros à cultura anglo-americana, preocupava-nos, então, encontrar caminhos que promovessem uma reflexão cultural crítica no confronto direto com a cultura e a língua hegemônicas. Posteriormente, nossa prática com o ensino de inglês via leitura e para a leitura nos levou a considerar a necessidade de um trabalho pedagógico que explorasse de forma atrelada o ensino de língua e o questionamento ideológico.
Nossa preocupação declarada com as questões de aquisição de língua para a leitura foi consequência da constatação prática de que muitas vezes a falta de domínio lingüístico tornava o sentido do texto opaco para o aluno, impossibilitando um posicionamento crítico autônomo. Nas aulas de leitura, observamos que nossos alunos tendiam a adotar duas estratégias de leitura para compensar seu conhecimento limitado de inglês: usavam o professor como um intermediador de
Ilha do Desterro
Florianópolis
nº 38
p.091-114
jan./jun. 2000
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JoAnne Busnardo e Denise B. Braga
sentidos ou discutiam o texto baseados em interpretações ancoradas nos fragmentos do texto que conseguiam entender. Ambas as estratégias são problemáticas quando se almeja desenvolver um leitor crítico em uma língua estrangeira. No primeiro caso, gera-se uma postura de dependência no professor como “tradutor”. No segundo, promovese uma atitude ingênua frente ao texto, pois o aluno atribui ao autor do texto colocações que sãos suas. Nesse caso, mesmo alunos independentes e muitas vezes bastante críticos, devido a