leitur dinamica
A semelhança entre a arte clássica e a “indústria do entretenimento” verifica-se, por conseguinte, também no que se refere à função apelativa ou incitativa da mimesis: “Sempre que [na arte] um estilo corrente é modificado na direcção do realismo, a nossa disposição mental sobre-reage: é o grau inesperado de
18 Acerca da questão de saber qual a determinante antropológica desta necessidade de olhar, podemos apenas especular. Num passo de um texto bastante conhecido, Freud procura mostrar como a transição da animalidade para humanidade correspondeu à substituição do olfacto pela vista e ao recalcamento do primeiro em detrimento da segunda. (Cf. FREUD,
Sigmund, Malaise dans la civilisation (1929), http://www.uqac.uquebec.ca/zone30/Classiques_des_ sciences_sociales/index.html.) A necessidade de ver imagens – que o distraem da materialidade bruta do cheiro - parece ser, assim, uma característica essencial do homem. realismo o que surpreende e cativa os contemporâneos, tal como observámos na nossa indústria do entretenimento.”19 Produzir um realismo que “surpreenda” e “cative” será, assim, um objectivo comum à arte clássica e à indústria do entretenimento contemporâneo e, mais especificamente, ao audiovisual
– ou, para sermos mais precisos, um objectivo que se terá transferido da arte para o audiovisual. Mas esta tese de Gombrich tem uma implicação surpreendente e, quiçá, paradoxal: a de que, ao assumir a mimesis como ideal, o audiovisual teve de se tornar, praticamente desde o princípio, “artístico” – no sentido em que, também ele, longe de se limitar a
“copiar” ou a “imitar” uma realidade preexistente, procurou desde logo construir uma realidade substituta da realidade, capaz de nos mover e comover mediante determinados efeitos “estéticos”. Por “estético” deve entender-se, aqui, tudo o que, de acordo com a etimologia da palavra - derivada de aisthesis, sensação -, se refere à