legaç
(anotações a respeito da dialética do reconhecimento, em Hegel) 1
O tema do reconhecimento, no campo da filosofia, foi especialmente explicitado por Hegel, no capítulo IV de sua obra Fenomenologia do Espírito. A questão é levantada pelo autor, a partir de uma polaridade que coloca em relevo as figuras do senhor e do escravo, daí a vulgarização dessa passagem como a "dialética do senhor e do escravo".
Este filósofo trabalha com o conceito de consciência-de-si, que podemos aproximar da noção contemporânea de sujeito. Mas este “sujeito” não se identifica com o cogito cartesiano (penso, logo existo), segundo a equação Eu = Eu. Com efeito, para Hegel, a consciência-de-si se constitui, como veremos adiante, não somente através do outro, mas também através de uma atividade, isto é, o trabalho.
A consciência-de-si é desejo (este conceito não coincide, embora tenha inspirado o conceito psicanalítico de desejo, em Lacan). Este desejo funda o "movimento de reconhecimento", através do qual o homem entra em contato com o mundo, para transformá-lo, e com o outro. Em outras palavras, a dialética do reconhecimento (processo pelo qual a consciência ou o sujeito tem acesso a si mesmo) supõe um movimento que se desdobra em distintos momentos, que podemos assim explicitar:
a) a consciência tem diante de si o mundo, os objetos do mundo, e se volta para eles. Mas o simples olhar para o objeto, à maneira de uma percepção neutra, não basta para revelar o "Eu" ou o sujeito. Este é revelado pelo desejo. É através do desejo que o olhar (a consciência-de-si) se volta para o objeto fora dele (em-si). Volta-se para o objeto desejando-o. Claro está que a consciência é diferente do objeto, da coisa desejada, ou seja, uma coisa é a consciência que deseja, outra é o objeto desejado, exterior a dela. Isso pode parecer óbvio, mas talvez nem tanto, porque...
b) a consciência pode tomar-se a si mesma como objeto (para-si). Nesse caso, ela é, a