lasar segall
Lasar Segall 1 por João Grinspum Ferraz
Foto Ilustrativa
Edição 61 - julho de 2008
"O pintor transcende o momentâneo para dar a seus quadros um valor permanente e universal. Não são mais judeus massacrados, não são mais europeus à procura de um outro habitat. É a nossa humanidade, somos nós mesmos postos a nu na tela". (Roger
Bastide)
Ao chegar ao Brasil, Lasar Segall, trazia na bagagem as memórias da sua infância vivida na Lituânia, no Leste europeu. Eram as memórias arraigadas na sua família e em milhares de famílias judias que, na sua diáspora milenar, habitavam os diversos países situados entre a Alemanha e a Rússia.
Essas memórias, dos shtetls e dos guetos, misturavam o mundo mágico da vida de criança na comunidade com as lembranças de séculos de perseguições, sofrimentos e discriminação racial. Os símbolos alegres, a música, a dança, as brincadeiras e os bichos, por um lado; por outro, o preconceito, a pobreza, as difíceis condições materiais e as perseguições raciais.
Muito embora o Brasil pouco tenha em comum com o ambiente do Leste europeu, lugar de origem de Segall, foi justamente através dessa bagagem, ligada ao mundo mágico da infância no judaísmo e dos sofrimentos decorrentes da vida judaica nessa região, que
Segall pôde apropriar-se de maneira tão natural e competente dos temas caros à vida brasileira. As desigualdades de um país com um enorme contingente de cidadãos miseráveis, recém-saídos da escravidão, condensaram-se na pintura de Segall como se o gueto e o pogrom encontrassem no Brasil seus paralelos em essência, a favela e a escravidão - ou a memória da escravidão. A temática da escravidão, tão cara ao povo judeu, presente no imaginário religioso: Moisés e a fuga do Egito.
Por outro lado, foi também aquilo que há de universalista e cosmopolita na sua formação de judeu da diáspora o que possibilitou que ele rapidamente incorporasse em seu trabalho
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