laranja mecânica
Nietzsche é o filósofo anti-metafísico em sua essência, pois o mesmo não aceita a imposição da verdade como forma de adequação, muito menos como uma descoberta, pois certamente nos faz questionar: a quem importa a verdade? E qual é essa verdade? De quem é essa verdade? Por fim, quem se importa realmente com essa verdade?
E neste contexto, Kubrick x Nietzsche, que acontecerá a tentativa de retratar os questionamentos morais do filme Laranja Mecânica com o auxílio dos textos “Além do bem e do mal ou prelúdio de uma filosofia do futuro” e “Para a genealogia da moral - uma polêmica.”
Analisando a questão da verdade na imposição da moral, observa-se que mentir é questionado em quase todas as análises morais já estudadas (desde Platão até Kant, mesmo passando por Descartes, que só defendia só existir verdade naquilo que pudesse ser provado), porém Nietzsche preocupa-se com a veracidade que possa existir na própria verdade, pois para ele toda verdade é relativa, é perspectiva, pois uma verdade só é verdade em função de uma perspectiva (num determinado tempo, lugar, momento, circunstância, modo), ou seja, fora daquela perspectiva não há como se determinar a verdade. Nesse diapasão, Nietzsche traz à tona a utilização da mentira útil, esta como verdade naquele instante, pois a tua verdade não é uma verdade absoluta, não é “a verdade”.
No filme este dilema moral da verdade é observado mais fortemente quando o personagem de Malcolm McDowell (Alex) é preso, após ser traído pelos seus comparsas. Dentro da prisão torna-se amigo (falso amigo, dentro de sua verdade para usufruir de benesses) de um pastor do presídio. O Ministro, bem como o Diretor do Presídio, além dos médicos, oferecem uma chance a Alex de se reintegrar à sociedade e terminar sua pena em liberdade: o tratamento Ludovico, que consiste em impor ao preso (chamado fantasiosamente de paciente) a assistir