LALA
Elaine Rossetti Behring
produto da voracidade do homem, obra do mais rico e poderoso que quer proteger seus
interesses próprios. Assim, o Estado foi até aquele momento uma criação dos ricos para
preservar a desigualdade e a propriedade, e não o bem-comum. A saída rousseauniana para
o impasse da desigualdade social e política na sociedade civil é a configuração de um Estado
cujo poder reside no povo, na cidadania, por meio da vontade geral. Este é o contrato social
em Rousseau. Diferentemente de Locke, o pacto não é apenas dos proprietários, mas envolve
o conjunto da sociedade em mecanismos de democracia direta (Bobbio, 1988). Assim, apenas
esse Estado, um Estado de Direito, fundado nas leis definidas pela vontade geral3, seria capaz
de limitar os extremos de pobreza e riqueza presentes na sociedade civil e promover a
educação pública para todos - meio decisivo para a livre escolha.
Porém, se, até então, o debate concentrava-se nas conseqüências políticas dos interesses
- alcançando, inclusive, uma perspectiva radicalmente democrática, como em Rousseau - a
consolidação econômica e política do capitalismo nos séculos XVIII e XIX introduziu outros e
duradouros condimentos nesta calorosa discussão sobre a relação Estado, sociedade civil e
bem-estar. Se, para os pensadores do período de fundação do Estado moderno, este era o
mediador civilizador - idéia resgatada pelas perspectivas keynesianas e social-democratas que
preconizaram, no século XX, um Estado intervencionista -, para o pensamento liberal
emergente, era um mal necessário (Bobbio, 1988). E continua sendo para os liberais do
presente...
Mercado e mérito individual no liberalismo
É bom que se diga que nos primórdios do liberalismo, nos oitocentos, existia um claro
componente transformador nessa maneira de pensar a economia e a sociedade: tratava-se de
romper com as amarras parasitárias da aristocracia e do