Laivos de sobremodernidade em "A Mulher que Prendeu a Chuva"
3158 palavras
13 páginas
UNIVERSIDADE DE LISBOAFACULDADE DE LETRAS
DIDÁCTICA DO PORTUGUÊS – LITERATURA II
PROFESSORA MARGARIDA BRAGA NEVES
Laivos de sobremodernidade em “A mulher que prendeu a chuva”
A mulher que prendeu a chuva e outras histórias, de Teolinda Gersão
Joaquim Santos Chamorro
1. Introdução
Para Teolinda Gersão o conto é um ponto de chegada na sua trajetória de escritora, embora não definitivo, como afirma em entrevista ao JL, de 28 de Fevereiro 2007, mês que precedeu a publicação do seu livro de contos A mulher que prendeu a chuva e outras histórias.
Para a autora, a brevidade que caracteriza o conto deixa menos “espaço para desenvolver as personagens, a atmosfera, o conflito”, e há uma proibição de errar que o torna mais difícil em relação ao romance, e talvez mais desafiante. Entretanto, publicou A Cidade de Ulisses (2011), romance sobre o qual já trabalhava na altura. Mas já nos catorze contos que compunham o título de 2007, a autora escreve recorrentemente sobre a cidade que escolheu para viver e fazer sua, de olhos fechados, porque a conhece como a palma da mão. Toma-lhe o pulso, descreve-lhe os contornos, adivinha-lhe os humores, os feitios, põe a nu os espaços, físicos e psicológicos, impudente, e afecta com a sua voz o drama de homens e mulheres sem nome, denunciando o mal-estar comum às sociedades modernas, impreparadas para todos os danos colaterais do seu desenvolvimento.
Com uma lucidez humanista, conta uma cidade mítica, que soube sobreviver à erosão do tempo, “aberta, com mar, com espaço”, até hoje, mas até quando? A escritora, aquariana contestatária, passe-se a redundância, segundo a própria, lança o alerta: Lisboa é uma cidade em ruínas. A preocupação da autora incide sobre os “buracos” que se abrem, principalmente em zonas nevrálgicas, como a baixa ribeirinha, e sobre as placas tectónicas e os seus movimentos nas profundezas do mundo geológico. Contudo, a sua contestação constitui-se
em tema de contos, e neles o ruir