labor, ação e trabalho
O labor distinguiase do trabalho. O labor tinha relação com o processo ininterrupto de produção de bens de consumo, o alimento, por exemplo, isto é, aqueles bens que eram integrados no corpo após sua produção e que não tinham permanência no mundo. Eram bens que pereciam. A produção desses bens exigia instrumentos que se confundiam com o próprio corpo: os braços, as mãos ou suas extensões, a faca, o cutelo, o arado. Nesse sentido, o homem que labuta, o operário, podia ser chamado de animal laboraras. O lugar do labor era a casa (oikia ou domas) e a disciplina que lhe correspondia era a economia (de oiko nomos). A casa era a sede da família e as relações familiares eram baseadas na diferença: relação de comando e de obediência, donde a idéia do pater familiar, do pai, senhor de sua mulher, seus filhos e seus escravos. Isto constituía a esfera privada. A palavra privado tinha aqui o sentido de privas, de ser privado de, daquele âmbito em que o homem, submetido às necessidades da natureza, buscava sua utilidade no sentido de meios de sobrevivência. Nesse espaço, não havia liberdade, da qual se estava privado, em termos de participação num autogoverno comum, pois todos, inclusive o senhor, estavam sob a coação da necessidade. Liberarse dessa condição era privilégio de alguns, os cidadãos ou cives.
Ação
O cidadão exercia sua atividade própria em outro âmbito, a polis ou civitas, que constituía a esfera pública. Aí ele encontravase entre seus iguais, e era livre sua atividade. Esta se chamava ação. A ação compartilhava de uma das características do labor, sua fugacidade e futilidade, posto que era um contínuo sem finalidade preconcebida. Todavia, à diferença do labor, a ação significava a dignificação do homem. Igual entre iguais, o homem ao agir exercitava sua atividade em conjunto com os outros homens, igualmente cidadãos. Seu terreno era o do encontro dos homens livres que se governam. Daí a idéia de ação política, dominada pela palavra, pelo discurso,