Kaspar hauser
Dirigido por Werner Herzog em 1974, O Enigma de Kaspar Hauser (baseado em livro homônimo) é tema de discussão na filosofia, ciências sociais e antropologia há muito tempo. Entre os temas decorrentes da análise do filme estão a prática social condicionada, o convívio social como construtor da identidade psicológica do homem, o conflito entre persona e sociedade, além de infinitos paralelos com correntes filosóficas de grandes pensadores. Estas interpretações não são necessariamente excludentes, sendo possível levar mais do que uma delas em consideração sem que apareçam contradições.Herzog sempre teve interesse em histórias exóticas que flertam com reflexões de nível psicanalítico, religioso, antropológico, poético e etc. Este filme não foge à regra. Se trata de uma pessoa (o tal Kaspar Hauser) que, logo após o nascimento, foi mantido escondido em um celeiro, privado de qualquer contato com o mundo externo até completar 18 anos. Quando é retirado, não sabe falar nem andar, sendo assim impossibilitado de articular raciocínios (pois estes são feitos através da linguagem, mesmo que em pensamento), e de interagir fisicamente com o novo ambiente. É ensinado a andar, e a reproduzir um punhado de palavras cujo significado ignora.O filme mostra a reação da sociedade ao lidar com um indivíduo nesse estado, possibilitando vários níveis subjetivos de leitura sobre os fatos ocorridos durante o filme. Por isso é uma obra tão explorada por diversas áreas do conhecimento.Porém, por mais que existam teorias diferentes agregadas ao filme, existe uma mensagem gritante que não pode deixar de ser evidenciada. O próprio Herzog demonstra a importância dada a este tema colocando, na primeira cena do filme, uma frase que sintetiza o conceito: "Vocês não conseguem ouvir esses gritos amedrontadores que habitualmente chamam de silêncio?".O filme reflete sobre a influência da linguagem e do histórico cultural na percepção da realidade. Isto é, as coisas que aprendemos