Kaspar hauser
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Eu é um outro. - Rimbaud
2
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
KASPAR HAUSER: a alteridade na construção do sujeito
Ainda que o trabalho de Berger e Luckmann tenha introduzido o construtivismo como forma de pensar o desenvolvimento dos fenômenos sociais e dos objetos de consciência em dados contextos humanos, a problemática da conceituação dos processos que levam o eu a ser este e não um não-eu outro tem sido foco constante das teorias que defendem um ser social e que pretendem definir o que é o homem em suas estruturas fundamentais. Frente à obra de Herzog - e apoiados nesta matriz construtivo-sociológica - passamos a questionar o papel das relações socialmente estabelecidas e seus consequentes efeitos na construção da identidade do personagem principal, que passa pela significação, pela subjetividade dos sentidos, pela constituição de um não-eu, culminando, por fim, na sua construção como sujeito. Colocado de outra forma, a luz que o trabalho de Berger e Luckmann projeta sobre a obra de Herzog não deixa de ser ontológica, pois que nos conduz a adotar como objeto de especulação a própria essência do que somos nós, deslocando-nos o significado da individualidade em direção ao conhecimento do que é o homem, e é justificada na obra cinematográfica, pois que esta explora e explicita as possibilidades de interações altamente plásticas entre a constituição bio-psico-química do homem e seu ambiente social. A afirmação de Berger e Luckmann de que "o homem experimenta-se a si mesmo como uma entidade que não é idêntica a seu corpo, mas que, pelo contrário, tem esse corpo a seu dispor", nos remete à concepção ontológica de Sartre, para quem o ser se constitui de corpo e consciência; no entanto, há que se entender, aqui, a consciência como a propõe Sartre,
3
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
ou seja, existente enquanto relação a algo