Kalecki e o Estado
O pensamento de Kalecki sobre o funcionamento do sistema econômico capitalista e a demanda efetiva tem influências de autores como Rosa Luxemburgo e Mikhail Tugan-Baranovski, além de Lênin e Marx, a partir da questão dos esquemas de reprodução, das teorias de transformação de valores em preços e das explicações marxistas sobre a causa das crises do capitalismo.
Na economia clássica, toda produção gera uma renda de igual valor, de modo que qualquer produção terá a sua realização garantida. Baseada nesta lei (conhecida como lei de Say; Say,1986) esta escola chega à conclusão de que o único limite para a acumulação de capital são os recursos disponíveis, entendidos como a poupança própria. Considerando que o investimento era realizado quase que exclusivamente com recursos próprios - a utilização de recursos de terceiros era um fenômeno pouco expressivo -, os clássicos concluíram que a taxa de juros não influenciava a decisão de investir e que a demanda não representava qualquer empecilho ao crescimento da produção.
Os neoclássicos, por sua vez, se deparam diante de uma realidade bastante diferente, já presenciando a atuação das instituições financeiras como intermediadoras entre poupadores e investidores. A taxa de juros era compreendida como o preço do capital regulada da mesma forma como qualquer outro preço (pelo jogo de mercado) e assumiria o papel de regulador entre poupança global e investimento global. Essa interpretação permite que a lei de Say continue sendo teoricamente consistente, sob a alegação de que embora o poupador e o investidor não sejam mais os mesmos, na globalidade o equilíbrio entre poupança e investimento continuava existindo.
Com Kalecki e Keynes o efeito causalidade se altera: o investimento é visto como criador e não resultante da poupança. A taxa de juros também sofre uma transformação radical quanto a sua relevância na decisão de investir: de regulador passa a ser vista como um parâmetro puramente monetário, sem