Juventude, tempo e movimentos sociais
Alberto Melucci
Universidade degli Studi di Milano
Tradução de Angelina Teixeira Peralva
Publicado em: Revista Young. Estocolmo: v. 4, nº 2, 1996, p. 3-14.
As atuais tendências emergentes no âmbito da cultura e da ação juvenil têm que ser entendidas a partir de uma perspectiva macro-sociológica e, simultaneamente, através da consideração de experiências individuais na vida diária. Neste ensaio, tentarei integrar esses dois níveis de análise e proporei que:
1) conflitos e movimentos sociais em sociedades complexas mudam do plano material para o plano simbólico;
2) a experiência do tempo é um problema central, um dilema central;
3) pessoas jovens, e particularmente adolescentes, são atores-chaves do ponto de vista da questão do tempo em sociedades complexas.
Da ação efetiva ao desafio simbólico
Vivemos em uma sociedade que concebe a si mesma como construída pela ação humana. Em sistemas contemporâneos, a produção material é transformada em produção de signos e de relações sociais.
Uma codificação socialmente produzida intervém
Revista Brasileira de Educação
na definição do eu, afetando as estruturas biológica e motivacional da ação humana. Ao mesmo tempo, existe uma crescente possibilidade, para os atores sociais, de controlarem as condições de formação e as orientações de suas ações. A experiência é cada vez mais construída por meio de investimentos cognitivos, culturais e materiais. Tais processos, de caráter sistêmico, são diretamente vinculados às transformações, pela produção de recursos que tornam possível a sistemas de informação de alta densidade manterem-se e modificarem-se.
A tarefa não é somente da ordem da dominação da natureza e da transformação de matériaprima em mercadoria, mas sim do desenvolvimento da capacidade reflexiva do eu de produzir informação, comunicação, sociabilidade, com um aumento progressivo na intervenção do sistema na sua própria ação e na maneira de percebê-la e