Justiça

“A justiça não existe “, dizia Alain, “Ela só existirá, se a fizermos, ai o problema humano”. O que é a justiça, ou o que deve ser? Como fazê-la? Das quatro virtudes cardeais, a justiça é a única completamente boa. A prudência, a temperança e a coragem, só são virtudes se a serviço do bem; serviço do mal são simplesmente talento ou qualidade do espírito. De tudo o que é possível conceber no mundo, há algo bom sem restrições? Kant diz que não, a não ser uma vontade boa. As demais qualidades do espírito, como a inteligência, decisão, fineza, coragem, perseverança, são boas e desejáveis, mas podem se tornar ruins e funestos, se a vontade que deve utilizá-los (caráter) não é boa. A justiça é boa em si, como a boa vontade. Em Aristóteles vemos que justo é aquele que só fica com a sua parte dos bens e com toda a sua parte dos males. O justo respeita a lei e a igualdade . Segundo Aristóteles, “todas as ações prescritas pela lei são justas”. Mas o que isso prova se a lei não é justa? Pascal mais cinicamente responde: “A justiça é o que é estabelecido, assim todas as nossas leis estabelecidas são justas sem serem examinadas, pois são estabelecidas”. Lei é lei seja justa ou não, mas ela não é a justiça, nesse sentido nos remetemos a outro sentido, a justiça não só como fato (legalidade) mas como valor (equidade). O desejável seria que lei e justiça caminhassem no mesmo sentido, e é nisso que todo cidadão tem a obrigação moral de se empenhar. A justiça não pertence a ninguém, a nenhum campo a nenhum partido. A justiça deve ser preservada, não pelos partidos, mas pelos indivíduos que os compõem ou resistem a eles. A justiça só existe e só é um valor quando há justos para defendê-la. Mas o que é um justo? Aquele que defende a legalidade? Obviamente que não! Ela pode ser injusta. Então o justo é aquele que defende a lei moral? Se a lei moral existisse, a justiça bastaria, não precisaria dos justos. E Aristóteles responde: “Não é a justiça que faz os justos, são os justos que