Juscelino Kubitschek
Durante cinco anos, o presidente Juscelino Kubitschek fez o país acreditar que estava entrando noPrimeiro Mundo. Mas, 50 anos depois de sua posse, umaquestão ainda precisa de resposta: o que deu errado?
Celso Miranda e Lira Neto | 01/01/2006 00h00
Imagine um país que fosse campeão mundial em otimismo. Que fizesse bonito não só no futebol, mas no tênis, boxe e atletismo. Pense num povo que pudesse se orgulhar de produzir uma música sofisticada que conquistasse as paradas de sucesso em todo o mundo na voz de grandes ídolos internacionais, incluindo o maior deles, Frank Sinatra. Imagine uma nação que recebesse, de uma só vez, a Palma de Ouro no festival de cinema de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro. Pense numa economia em que as indústrias se multiplicassem a olhos vistos, os dólares não parassem de chegar e a produção de petróleo aumentasse 15 vezes em cinco anos. Por fim, imagine ainda que essa terra ostentasse como capital a cidade mais moderna do planeta.
Esse país, acredite, existiu. E o mais incrível: era o Brasil. Na segunda metade da década de 50, parecia que havíamos “chegado lá”, que tínhamos deixado para trás o estigma de ser uma nação rural, doente, analfabeta e condenada ao subdesenvolvimento e que estávamos prestes a conquistar uma cadeira no seleto clube dos países do Primeiro Mundo. Embalado por essa crença, o país vivia um momento de entusiasmo. Nas palavras de Nelson Rodrigues, um escritor emblemático da época, o brasileiro se libertava do “complexo de vira-latas”.
De onde vinha tanto otimismo? Para historiadores, jornalistas, ou para quem apenas viveu aqueles anos dourados, a fonte de tanto brilho era a figura sorridente e jovial do presidente Juscelino Kubitschek. Mas, num típico dilema do “ovo ou a galinha”, será que Juscelino gerou o clima de otimismo ou foi gerado por ele? Para a historiadora Marly da Silva Motta, do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas