Juros altos
O Brasil tem uma das taxas mais altas do mundo e com ela é impossível crescer de verdade
Em julho do próximo ano, o Brasil estará comemorando sua primeira década de estabilidade em muito tempo. Os dez anos do real foram marcados por taxas de inflação muito abaixo da média histórica - mas também por crescimento fraco e investimentos produtivos aquém das necessidades. A combinação de resultados positivos no controle dos preços e do comportamento medíocre na economia real tem intrigado os especialistas. A questão, levantada recentemente pelo economista Pérsio Arida ao receber o título de Economista do Ano, é entender por que o Brasil não tem conseguido unir crescimento e estabilidade. "O Plano Real foi extremamente bem-sucedido em derrubar a inflação, mas claramente malsucedido em criar uma trajetória de crescimento elevado e sustentado", disse Arida, um dos pais do Real, em seu discurso de agradecimento durante a premiação.
Um olhar sobre o comportamento dos juros no período ajuda a entender o problema. A economia brasileira tem ostentado nos últimos tempos a maior taxa do planeta. Desde 1994, os juros reais têm-se mantido sistematicamente acima de 10% ao ano - em 1998, bateram em inacreditáveis 27%. [...] Enquanto isso, a maior parte dos países opera com taxas em torno de 2% - ou ainda menores. "Há algo de específico na experiência brasileira com os juros", diz Arida. "Eles são absurdamente altos por qualquer critério que se tome".
Exatamente por serem tão altos, os juros são tema obrigatório nas discussões sobre a economia brasileira. Desde o começo do ano, não passa uma semana sem que alguma personalidade vocifere contra a política monetária da atual equipe econômica - incluindo no grupo de críticos membros do alto escalão governamental, à frente o vice-presidente, José Alencar. Por mais que se possa compreender a insatisfação, o fato é que a maior parte dos que reclamam ainda não entendeu a natureza do problema