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1004 palavras
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Pediu-me o Relógio (rapaz de mil artes e ofícios) que escrevesse um conto (mas que de ilusões se alimentará este rapaz?). Seja como for e também, por ventura, algum respeito, acedi (pura loucura ou apenas mórbida curiosidade de ver até onde é que o meu corpo fragilizado por horas infindáveis em torno de petiscos alentejanos aguentava).Antes ainda de iniciar e vos iniciar na encruzilhada que se segue e no fatal começo de todos os contos do meu dia a dia (quem me manda ser contador de estórias?), devo-vos avisar de que a acção se situará, numa primeira fase, em Santarém, terra onde aliás nasci. Só isso faz com que associe a ela todo um conjunto de factores míticos e místicos, apenas acentuados pelas inúmeras igrejas (com preferência especial pela da Piedade, pelo simples facto de ter a forma de uma cruz grega, contrastando com o claro domínio da latina), as casas que nos contam estórias e ameaçam desabar a qualquer instante e a (quase) inevitável visão do Tejo nos miradouros onde devia ter beijado mais raparigas do que as que beijei na realidade. Se a ordem do mundo (ou pelo menos da minha vida) se tivesse invertido e tivesse nascido em Grândola (aguentem, peço encarecidamente, o fervor pavloviano de invocar a música do Zeca Afonso), talvez agora ousasse uma estória baseada na terra donde vos escrevo.
Enfim.
Era uma vez (agora sim, confessem lá o doce prazer de ver a estória começar) uma cidade onde nasceu um menino que gostava de poesia. Os pais trabalhavam dedicadamente numa farmácia cujo nome não irei revelar (por ora) e que, obviamente, estranharam tamanho problema no rapaz.
Ele, coitado, tendo nascido a 10 de Novembro de 1948, dever-se-ia ter preocupado com o facto do Eusébio só ter completado a instrução primária em Portugal, ou a vinda da Rainha Isabel II ao nosso país na primeira emissão da nacional televisão RTP.
Mas como ia a dizer, ele gostava de poesia.
Também gostava de pintar, mas dessa arte poucos sabem ou conhecem pois não foi muito