João Copa, por Tarciana Furtado

João Copa.
João, 27 anos, alto, magro, preocupado com política.
De quatro em quatro anos é a mesma coisa: João reclama que o país não se dá valor, sempre diz o quão ridículo é o fato de a maior alegria de um povo ser um esporte que dá oportunidade e privilégios a poucos. João reclama da Copa.
Esse ano todas as indignações foram levadas ao extremo. O Brasil é sede da Copa. Junto com isso vem mais um milhão de motivos para João reclamar: Falta de estrutura política, corrupção, superfaturamento dos estádios, o descaso com rodovias fora da rota das cidades sedes, a falta de investimentos em educação, segurança e saúde.
João não conseguiu se conter precisava deixar clara sua indignação.
Comprou um ingresso para cada jogo do Brasil, comprou as viagens e está pagando tudo em parcelas a perder de vista. Ele apenas quer ver o descaso, quer presenciar para suas críticas terem mais base.
Ele está cansado do Brasil.
João conseguiu 15% de desconto pela internet em uma blusa do Brasil, número 10. Desembolsou apenas R$ 239,00, e gravou seu nome nas costas por R$70,00. Claro que João não se importa com nada disso, mas tem o anseio secreto de conseguir um autógrafo do Neymar, para mostrar pros seus netos...
Mas enquanto a Copa não chega, João senta de frente para a televisão e assiste ao telejornal.
João presta atenção nas reportagens e diz o quanto se sente indignado pelo Neymar, um jogador de futebol (maravilhoso, fantástico e muito simpático, na visão dele), receber mais que um professor. João reclama do superfaturamento dos (lindos, bem projetados, modernos e espaçosos, em outras palavras de primeiro mundo) estádios das cidades sedes.
Hoje João fala mal de todos os jovens que não dão valor ao seu futuro e que reclamam de tudo mas nunca se levantam da cadeira para mudar nada.
João é mais um hipócrita do Brasil. Mais um João Copa.