José Saramago, uma grande viagem
José Saramago dispensa apresentações àqueles que foram inoculados pelo vírus de sua prosa escorreita, com melodia e arranjos que lhe são completamente peculiares. Não é a esses que me dirijo. Falo àqueles que ainda não tiveram o prazer de se deleitar com suas histórias para apresentar sucintamente um roteiro de viagem por “águas nunca de antes navegadas”.
Nascido a 16 de novembro de 1922, na pequena aldeia de Azinhaga, norte de Portugal, filho de uma humilde família de agricultores, José de Souza - seu nome de batismo - cedo foi obrigado a largar os estudos, ainda na escola primária, para trabalhar como serralheiro mecânico. Sua origem humilde não o impediu, entretanto, de se dedicar aos livros e de se tornar o grande escritor que é, distinguido com o Nobel. Sobre seus principais dados biográficos, nada melhor do que dar a voz ao próprio escritor:
Nasci numa família de camponeses sem terra. Gente, quase toda ela, analfabeta. Meus pais emigraram para Lisboa quando eu tinha dois anos. A vida não foi fácil. Por falta de recursos, não completei o curso liceal. Como o ensino industrial era muito mais barato, fiz um curso de serralheiro mecânico, e de serralheiro mecânico foi o meu primeiro emprego. Até os dezenove não tive livros meus. O que aprendi foi nas bibliotecas públicas, lendo à noite. Um dia escrevi um romance, que foi publicado em 1947 (“Terra do pecado”, inédito no Brasil; o segundo romance, “O ano de 1993”, só foi lançado em 75. Nos anos 60, o autor publicou crônicas e poesias - NR). Depois achei que não tinha nada de interessante para dizer, e calei-me durante vinte anos. Recomecei a escrever quando achei que talvez valesse a pena. Parece que valeu. 1
Seu primeiro