Josefa obidos
A pintura de Josefa é essencialmente uma arte devocional e para a entendermos é necessário conhecer desde Zurbarán até à gravura Holandesa (um católico, a outra, até protestante) e claro, a pintura de seu pai, Baltazar Gomes Figueira, esse excelente mas ignoto (era homem) pintor português, vão a Évora vê-lo.
Josefa de Óbidos é um nome refúgio, nem toda a sua pintura é de Ayala...
É do ritual diário do claustro conventual que nasce a arte de Josefa. Não é simples, nem muito ortodoxa, mas contém sentido profundo e extenso.
As imagens da Natureza, o seu melhor, são vistas através de pontos simbólicos do ritmo natural e sensual das estações do ano, são janelas sobre o seu significado transcendente. As festas referem comemorações de um tempo da natureza que é posse do divino, dádiva e participação humana (os bolinhos). As suas pinturas são revelações do divino na natureza e no labor do homem, são sacrifícios litúrgicos, oblações, em sentido lato e no sentido restrito, Bíblico.
Josefa não distingue, entre a pintura religiosa e a natureza morta,esta é, sempre, pintura religiosa. Os elementos da sua pintura fazem parte dessa cadeia áurea que se eleva do simples barro, a matéria, passando pelas plantas e flores, aos animais, ao homem, aos anjos, até ao puro espírito.
Os seus objectos pintados, profanos ou naturais, são de facto místicos. Portanto, contemplações de Deus.
Nov. 2002 A. Melo
JOSEFA DE AYALA ou o ELOGIO DA INOCÊNCIA
"Como bem afirmou o historiador de arte Luís de Moura Sobral, em análise recente a propósito de Josefa de Óbidos, "o maior mérito da pintora reside em ter logrado transmitir-nos com incomparável fidelidade a concepção barroca de uma religiosidade de rendinhas, glutona e ao fim e ao cabo sublime, na sua patética inocência".
Trata-se de uma síntese bastante correcta, de facto, porquanto põe o que de mais característico e pessoal existe nas obras desta artista considerada de grande destaque no século XVII português: a sua