Jornalismo
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O objeto, aqui, não é o "poder dos jornalistas" — e menos ainda o jornalismo como "quarto poder" —, mas a influência que os mecanismos de um campo jornalístico cada vez mais sujeito às exigências do mercado (dos leitores e dos anunciantes) exercem, em primeiro lugar sobre os jornalistas (e os intelectuais-jornalistas) e, em seguida, e em parte através deles, sobre os diferentes campos de produção cultural, campo jurídico, campo literário, campo artístico, campo científico. Trata-se então de examinar como a restrição estrutural exercida por esse campo, ele próprio dominado pêlos pressões do mercado, modifica mais ou menos profundamente as relações de força no interior dos diferentes campos, afetando o que aí se faz e o que aí se produz e exercendo efeitos muito semelhantes nesses universos fenomenicamente muito diferentes. Isso sem cair em um ou outro dos dois erros opostos, a ilusão do nunca visto e a ilusão do sempre assim.
A influência que o campo jornalístico e, através dele, a lógica do mercado exercem sobre os campos de produção
* Acreditei útil reproduzir aqui este texto, já publicado em Actes de Ia Recherche en Sciences Sociales, onde eu expusera, sob uma forma mais estrita e mais controlada, a maior parte dos temas de que apresentei acima uma versão mais acessível.
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cultural, mesmo os mais autónomos, não tem nada de uma novidade radical: poder-se-ia compor sem dificuldade, com textos extraídos dos escritores do século passado, um quadro inteiramente realista dos efeitos mais gerais que ela produz no interior desses universos protegidos.1 Mas é preciso evitar ignorar a especificidade da situação atual que, para além das coincidências resultantes do efeito das homologias, apresenta características relativamente sem precedente: os efeitos que o desenvolvimento da televisão produz no campo jornalístico e, através dele, em todos os outros campos de produção cultural, são incomparavelmente mais importantes, em