John holloway
Conferência do autor, em Buenos Aires, durante o IV Encontro por um Novo Pensamento, antecipando o conteúdo de seu livro sobre o mesmo tema
John Holloway
Minha ação política procura estar em sintonia com o período novo que vivemos. Há uma busca mundial, um movimento que caminha perguntando e que tem um ponto de referência fundamental no movimento zapatista, mas também no movimento piqueteiro da Argentina, o MST no Brasil, o movimento anticapitalista de Seattle, de Gênova e tantos outros em todo o mundo. Esta busca teórica-prática e estes movimentos sociais têm em comum duas experiências fundamentais.
A primeira: o capitalismo é, evidentemente, odioso e destruidor. Na situação atual, está muito claro também que o sistema pode conduzir à destruição total da humanidade. Essa é a primeira experiência fundamental. A segunda: o velho modelo de conceber que a revolução fracassou. Ele via o Estado como o eixo central da mudança social. A idéia era que, tomando o poder estatal, seja pela violência ou eleições, seria possível implementar uma mudança social radical. Esta visão teve duas variantes – a revolucionária e a reformista. Mas as duas versões tinham em comum a idéia de que o Estado, e portanto a conquista do poder estatal, eram a porta imprescindível à revolução.
“Traição”, categoria inútil
Agora me parece que este modelo fracassou em ambas as versões. Nem as tornadas revolucionárias do poder, nem as conquistas eleitorais conseguiram introduzir a mudança social que prometiam. Ante esses fracassos, a primeira forma de reagir é falar da traição. A traição da revolução russa, chinesa e tantas outras. Mas é óbvio que depois de dezenas de casos, a categoria traição já não ajuda muito... Não basta mais de examinar as experiências históricas particulares. É preciso refletir por que não funciona a idéia de mudar a sociedade por meio do Estado.
Trabalho com três idéias. Primeiro, não funciona porque o eixo desta