Jogo de cena
Paulo Henrique da Silva, do Hoje em Dia
GRAMADO - Eduardo Coutinho nunca escondeu que, mesmo nos documentários, o que se vê é uma ficcionalização da verdade. Ao contar uma história, o entrevistado se comporta como um ator diante das câmeras. Com o filme «Jogo de Cena», apresentado no Festival de Cinema de
Gramado, em agosto, e previsto para estrear nas telas no próximo mês, o diretor de obras marcantes como «Cabra Marcada para Morrer» e «Edifício Master» aprofundou mais a discussão em torno dos limites entre a realidade e a ficção.
Coutinho convidou as atrizes Marília Pêra, Andréa Beltrão e Fernanda Torres para interpretarem, sem qualquer recurso cênico, os depoimentos de casos pessoais relatados por mulheres comuns, também são apresentados no filme - situação que provoca inevitáveis comparações. «É um jogo, mas ninguém ganha. O que elas fizeram foi um risco, pois, além de ganharem um cachê simbólico, esse não é um trabalho normal. As atrizes não podiam imitar, ironizar ou criticar as personagens reais», salienta o cineasta.
O resultado é surpreendente. Andréa Beltrão, por exemplo, não consegue deixar de se emocionar durante a interpretação, dizendo que é incapaz de dizer o texto, que envolve tragédias, com a mesma naturalidade de sua fonte de inspiração. Fernanda Torres, por sua vez, mistura a sua própria realidade, contando um caso íntimo e não revelado anteriormente, sobre quando precisou recorrer ao candomblé para engravidar. Propositadamente ou não,
Marília Pêra não decorou todas as falas, embora tenha preservado a essência.
O cineasta dificulta um pouco mais as coisas para o espectador e insere depoimentos de outras pessoas reais e atrizes desconhecidas. Neste caso, fica praticamente impossível saber quem está interpretando ou não. Para uma plateia de jornalistas, presentes no Festival de
Gramado, onde o filme exibido fora de concurso, Coutinho acabou entregando o jogo. Muitos ficaram assombrados com a