Jean Baudrillard
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A ação política está morta. Não existem mais atores sociais no sentido clássico. A política tirava a sua razão dos projetos de organização com a finalidade de construção de uma sociedade específica. Hoje, infelizmente, não há controle sobre o organismo social, que se gera sozinho, autônomo e fechado. Ninguém é responsável individualmente por nada. A perversão, ou a reversão da história, acontecida neste final de século, assenta-se sobre a indiferença. Não anuncio nenhum estrondo, apenas o desinteresse. Entramos no transpolítico: o estágio em que o social, o político e o futuro entraram em decadência. É o tempo do vírus, da permanência do mesmo sob outra forma: os vícios dos grandes sistemas permanecem na proliferação dos microssistemas.
A esquerda chegou atrasada ao poder. Coube-lhe, na Europa, administrar a impossibilidade da mudança, sem escapar ao capitalismo. No momento, evidente, não há poder para a esquerda conquistar. As grandes idéias, modernas, naufragaram. Um esquerdista na presidência de um país democrático não pode fazer nada de radicalmente diferente. O fim do político implica o desaparecimento da decisão. A liberdade é nula. Não há mais decisão final. A política deixa-se levar pela apatia. Pensava-se que o político desapareceria, engolido pelo social, mas ambos pereceram. Os negócios da política acontecem como que em um estado vazio, sem eco, sem ressonância e sem relevância. Claro, os políticos, em nome do marketing, procuram esconder o desaparecimento da política. A esquerda joga em campo dissipado, impotente para realizar as promessas, perdidas no passado teleológico da modernidade.
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Técnica é uma palavra vaga, mas as condições de exercício do pensamento e da sensibilidade mudaram completamente a partir do momento em que se instaurou uma polarização global em função da técnica, colocada como o elemento dominante. O pensamento, os sentidos, a percepção e a metafísica do