JD Duende 2
Duende, no caso, não é a folclórica entidade sobrenatural. Não há lugar para esoterismo na vida bandida de Webster. Na tradição flamenca, duende é algo impossível de explicar. É preciso sentir. Só quem se deixa tragar plenamente pelo flamenco é capaz de compreender, seja cantando, dançando, tocando ou mesmo assistindo a uma apresentação do gênero. Para uns, duende é uma sensação inebriante de vitalidade trazida pelo ritmo da música. Para outros, pode ser um transe ou até a morte. Sem saber por quê, Webster precisava disso, mesmo tratando-se de algo tão abstrato, até assustador. E a única maneira de satisfazer esse estranho desejo é mergulhando fundo numa viagem sem volta ao cerne do flamenco, na qual ele embarcou sem pensar duas vezes. Jovem culto, com estudos no Egito e residência na Itália, Webster sempre teve um enorme fascínio pela Espanha. Ao ser abandonado pela namorada florentina, ele ficou apenas com a certeza de que não tinha nada mais a perder. Comprou um violão – apesar de não saber tocar instrumento algum – e seguiu para Alicante, uma remota cidade espanhola. É fácil esbarrar com grupos de flamenco feitos apenas para divertir turistas, mas o que Webster queria era penetrar a alma dessa cultura, cuja verdadeira tradição sobrevive em comunidades extremamente fechadas. Ele demorou para encontrar alguma pista que o levasse ao autêntico flamenco, até que conheceu Lola, uma dançarina divina, porém casada com seu patrão, o dono de um cursinho de inglês onde Webster dava aula. Enquanto arrasta o leitor para o apaixonante universo do flamenco, o autor narra seu romance proibido com Lola, a fúria assassina do marido traído, as aulas de violão que só terminavam muito tempo depois que seus dedos começassem a sangrar, suas fugas para Madri e Granada, sua degradação pelo álcool e pela cocaína, seus excessos sexuais, o alto preço que pagou para ser aceito entre os ciganos, a peregrinação por bares e prostíbulos decadentes, o encontro com o mítico Paco de