O trabalho, originalmente, era visto como sofrimento, punição ou castigo. Na Bíblia, ao serem expulsos do paraíso, Eva foi condenada às dores da gravidez (trabalho de parto) e Adão a conseguir seu sustento com o próprio suor, ou seja, ao serem expulsos do ócio do Éden, os dois foram condenados ao sofrimento do trabalho. Na Grécia, o trabalho era visto como pena aos escravos e desonra sobre os homens livres, enquanto o “ócio [era visto] como um valor indispensável para a vida livre e feliz, para o exercício da nobre atividade da política, para o cultivo do espírito (pelas letras, artes e ciências) e para o cuidado com o vigor e a beleza do corpo” (CHAUÍ, 2012). Esse pensamento permeou a história da civilização ocidental até a Reforma Protestante quando, segundo análise de Max Weber em A ética protestante e o espírito do capistalismo (WEBER, 1967), surge a noção de vocação como um chamado divino. A ética protestante colocou que todas as pessoas têm vocação ao trabalho árduo, e, portanto, devem dedicar suas vidas à acumulação de riquezas e preservar a vida ascética - visto que a riqueza que se acumula com esse trabalho é o único sinal da salvação e, em oposição, a “falta de vontade de trabalhar é sintoma de estado de graça ausente” (WEBER, 1967). Essa visão - a acumulação de riqueza combinada com a renúncia a todo o gozo -, ao longo do tempo, foi destituída de seu sentido espiritual (da salvação) e passou a constituir uma ação mecanizada e totalmente desprovida de sentido, constituindo um fim em si mesma, isto é, “o homem é dominado pela produção de dinheiro, pela aquisição encarada como finalidade última de sua vida” (CHAUÍ, 2012). Segundo Weber, “a partir do momento em que não pode remeter diretamente o ‘cumprimento do dever profissional’ aos valores espirituais supremos da cultura (...), aí então, o indivíduo de hoje quase sempre renuncia a lhe dar uma interpretação de sentido” (WEBER, 1967). E nisso constituí-se a Jaula de Ferro, na ausência de sentido na