James Clifford: Sobre a autoridade etnográfica (ficha)
Este estudo traça a formação e a desintegração da autoridade etnográfica na antropologia social do século XX.
A prática da representação intercultural está em xeque, o que está relacionado à desintegração e à redistribuição do poder colonial nas décadas posteriores a 1950, e às repercussões das teorias culturais radicais dos anos 1960/70 – crise de consciência da antropologia – vivemos num mundo de etnografia generalizada [heteroglossia].
O desenvolvimento da ciência etnográfica não pode ser compreendido separado de um debate político-epistemológico mais geral sobre a escrita e a representação da alteridade.
Entre 1900 e 1960, uma nova concepção de pesquisa de campo se estabeleceu como a norma para as antropologias americana e européia. O trabalho de campo intensivo, realizado por especialistas treinados na universidade, emergiu como uma fonte privilegiada e legitimada de dados sobre povos exóticos.
Como a experiência incontrolável do campo se transforma num relato escrito e legítimo? [p.21] – fluidez, complexidade, relações de poder.
A etnografia está, do começo ao fim, imersa na escrita. Esta escrita que inclui, no mínimo, uma tradução da experiência para a forma textual. O processo é complicado pela ação de múltiplas subjetividades e constrangimentos políticos que estão acima do controle do escritor. Em resposta a estas forças, a escrita etnográfica encena uma estratégia específica de autoridade.
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Construção da autoridade etnográfica em oposição ao amadorismo de viajantes, missionários, comerciantes, funcionários da administração real, etc.
Autoridade experiencial – trabalho de campo – uma autoridade cientificamente validada, ao mesmo tempo que baseada numa singular experiência pessoal – Fusão de teoria geral com pesquisa empírica, de análise cultural com descrição etnográfica (antropologia e etnografia se fundem na figura do pesquisador de campo).
Necessidade retórica de asseverar o caráter objetivo