Itamaraty - levantamento sobre Casa Rosa
Casa bem assombrada
Palácio do Itamaraty, Rio de Janeiro [...] Com a sua fachada neoclássica, a Casa continua virtualmente sem mudanças há mais de 150 anos. Só variou o matiz de sua pintura externa, que ao longo dos anos viajou de um rosa pálido até um siena intenso. Dá ainda para a rua sem recuo, mas tinha, naqueles tempos, o mais democrático dos acessos. Posteriormente, a sua guarda ficou, e perdura até hoje, a cargo dos Fuzileiros Navais – corporações ambas, a deles e a nossa, criadas quando da chegada providencial de dom João VI a estas praias. Não havia, ou não se percebia, ou não ameaçava a gente de boa paz, a violência urbana. Naquele tempo, no Rio, só me assaltavam dúvidas. Ainda se entra, a pé, pela mesma e longa galeria flanqueada pelos bustos dos heróis da independência das Américas, e os de alguns penetras de outras safras e procedências. Existe outra entrada, só usada em dias de gala. Ela leva ao saguão que se abre para a bela escadaria e conduz ao andar superior. Por ela subiu o Império para comemorar, dançando, o fim da Guerra do Paraguai, na noite em que a princesa Isabel e o conde d’Eu receberam para um grande baile os oficiais que, vitoriosos, voltavam à Corte. Havia, e há, uma terceira entrada. É a exclusiva para automóveis, que contorna o edifício e leva à garagem, ao estacionamento e aos demais prédios que integram o nosso quadrilátero diplomático. Mas naquele tempo havia pouquíssimos automóveis. Chegávamos quase todos a pé.
Fiz longa essa descrição da Casa e do seu entorno porque acho que uma parte da cultura do Itamaraty derivava de nossa situação na cidade e de nossa planta. Em Brasília, mais tarde, os espaços e as vistas iriam permitir sonhar e antever um novo Brasil. No Rio, estávamos ancorados no âmago mesmo da cidade, e não era possível escapar do que, de fato, éramos e tínhamos sido. A história e o presente, mais do que o futuro, nos definiam. Em Brasília, havia aspirações.
Ser diplomata não é uma vocação