ITAMAR ASSUMPÇÃO EM DOIS MOMENTOS
Itamar Assumpção, paulista da cidade de Tietê, apresenta em suas obras uma forte relação entre música e poesia, ambas geralmente voltadas para questões culturais relativas à negritude, fato que não poderia ser diferente, uma vez que Itamar, além de negro, era filho espiritual e biológico de um babalorixá e ogã alabê de seu terreiro na cidade do interior paulista. Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo demonstrar através de algumas canções/letras de Itamar, em dois períodos diferentes, no primeiro e nos dois últimos álbuns, a presença da negritude e a relação entre música e poesia.
Para o início da abordagem, é indispensável tratarmos um pouco do primeiro álbum de Itamar, Beleléu, Leléu, Eu, lançado em 1981, que na verdade traz a personagem que ficaria vinculada à sua imagem durante toda sua vida, a de Beleléu, Benedito João dos Santos Silva Beleléu, vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavel. É interessante notarmos que o nome e o pseudônimo dessa personagem já possuem um ritmo marcado caracterizando a musicalidade presente em todo o disco, centrado na figura de Beleléu, que é apresentado desde o início como um marginal “perigoso” junto a seu “bando” Isca de Polícia, marginal esse que traz em seu nome nomes populares encontrados no Brasil, como “Santos” ou “Silva”, por exemplo, juntamente com as marcas de brevidade de uma vida marginal, que, a qualquer momento, vai ao “beleléu” e de periculosidade, caracterizado pelo pseudônimo “cascavel”, que denota o perigo apresentado por esse réptil peçonhento. Ainda em relação à musicalidade, vale apontar o que Luiz Tatit1 diz a respeito do “eu-beleléu [que] contribuiu, sem dúvida, para uma associação direta da sonoridade do disco com seu protagonista. A negritude, a marginalidade musical, a loucura descrita em muitas passagens das letras, tudo isso convoca a figura magra e enigmática do autor, o qual, por sua vez, nada fazia para dissociar o personagem do ser em carne e osso. A