Islã e judaísmo na alta idade média
Quando pensamos sobre o período inicial do islamismo, é quase inevitável que o associemos ao desenvolvimento cultural e científico característico dos primeiros séculos posteriores à hégira. Talvez, para um observador externo ao movimento (como é o nosso caso), tal poderia parecer; mas se analisarmos mais atentamente determinadas suras do Alcorão, notaremos certos elementos capazes de nos revelar nuances do período e local em que foram redigidas, bem como a preocupação em relação ao tratamento destinado aos povos não convertidos – sobretudo os Povos do Livro.
Em fins do século VI EC, a cidade-oásis de Meca estava na rota de caravanas comerciais oriundas da Arábia Central e Meridional, e sua organização social baseava-se em divisões e alianças entre clãs e tribos. Seus habitantes adoravam deuses diversos – muitos dos quais foram adotados de outros povos. Sob o domínio da tribo coraixita, Meca ampliara consideravelmente a importância de tal roteiro: várias tribos árabes e bérberes ligavam-se a esse sistema para garantir a passagem segura de suas caravanas pelos arredores da cidade. “O crescente número de ídolos tribais depositados na Caaba manifestava esse entendimento.”
Maomé nasceu em Meca por volta de 570, numa das famílias mais pobres dali. Seu pai, Abdallâh, pertencia ao clã haxemita, de grande influência política na cidade; após sua morte, a criação de Maomé ficou a cargo de seu tio - Abû Tâlib, então chefe do clã haxemita - que o instruiu nos assuntos comerciais. Por volta dos 25 anos casou-se com Cadija, uma rica viúva envolvida com o comércio caravaneiro. Maomé apreciava os jejuns e meditações; para isso, gostava de permanecer solitário nas colinas das cercanias de Meca.
Nos primeiros anos do século VII, as tensões sociais da cidade tornaram-se mais evidentes. No período da guerra entre persas e bizantinos (c. 610), Maomé
(...) começou a receber uma primeira série de revelações de um Deus transcendente, criador do