IrmãoS Karamazov
por ter um grupo de personagens como protagonistas (embora o narrador insista no fato de que Aliócha é o herói da narrativa, por ser o elemento “positivo” da trama, aquele que aprende com os erros alheios e os próprios), e por se passar numa cidadezinha provinciana, longe da esfera de Petersburgo—a qual domina boa parte da obra dostoiévskiana, o livro se aproxima mais de outro Dostoiévski supremo, Os Demônios; além disso, ambos têm um narrador ambíguo e discutível —em termos literários, com relação à construção do ponto-de-vista narrativo—, que se apresenta como alguém da cidade, um cronista, que meramente acompanhou os fatos, mas que possui o poder da onisciência divina: sabe até o que os outros pensam e sentem
Na cidadezinha de Skotoprigonievski, Fiódor Karamázov vê, de repente, todos os filhos à sua volta, embora nunca tenha ligado para nenhum deles, após a morte das duas esposas: Mítia, com o qual disputa os favores de Gruchenka (e, por essa razão, é ameaçado de morte pelo filho diversas vezes, principalmente quando ele sabe que o pai fica esperando por elas todas as noites), Ivan e Aliócha.
O que define os Karamázov (e Aliócha se salva por causa do exemplo do “stáretz” Zózima, homem santo cuja vida ocupa um dos inúmeros desvios narrativos do romance) é a voracidade, a avidez sem limites, que faz com que eles toquem os limites da condição humana e sintam que só podem se redimir pelo sofrimento (é o que diz Mítia, ao ser preso: “Quero sofrer e redimir-me pelo sofrimento”). van é como Raskólnikov (de Crime e Castigo): desenraizado, dominado por teorias racionalistas e niilistas, cujo sofrimento é estéril ao contrário do de Aliócha, o qual consegue se ligar ao povo e ser amado por ele.
Não é à toa que Ivan, prestes a ficar louco, receba uma das duas visitas mais famosas que o Diabo fez até hoje na alta ficção (a outra é feita a Adrian Leverkühn, em Doutor Fausto, de Thomas Mann). A fórmula decorrente da postura de Ivan, “se Deus não existe, tudo