ION ÇKL
Há certos ajustes que precisam ser feitos quando se vem dos Estados Unidos para cá; é necessário uma forma diferente de observar. Lembro-me da americanidade de meu próprio olhar, quando regressei a Lahore* naquele inverno em que a guerra se anunciava num futuro próximo. Primeiro, fiquei impressionado com a aparência decrépita de nossa casa, com rachaduras que cruzavam os tetos e bolhas secas de tinta descascando, nos pontos em que a umidade se infiltrara na parede. Nossos móveis pareciam antiquados e com urgente necessidade de serem reestofados e passarem por uma reforma. Entristeceu-me encontrar a casa naquelas condições – não, mais do que triste, fiquei envergonhado. Era dali que eu vinha, aquela era minha origem, e ela cheirava à penúria.
Mas, à medida que me reaclimatei e que meu meio voltou a se tornar familiar, ocorreu-me que a casa não tinha mudado em minha ausência. Eu é que havia mudado; olhava ao redor com olhos de estrangeiro, e não de um estrangeiro qualquer, mas daquele tipo específico de norte-americano altivo e antipático que tanto me irritava, quando eu o encontrava nas salas de aula e nos locais de trabalho da elite do seu país.
(Adaptado de: HAMID, M. O fundamentalista relutante. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p.117-118.)
* Lahore é a capital da província de Punjab, no Paquistão. É a segunda maior cidade do país e um importante centro histórico e cultural. 1 Com relação ao texto, considere as afirmativas a seguir.
I. No primeiro parágrafo há um estranhamento do personagem em relação à casa em que nasceu.
II. No segundo parágrafo, o personagem constata a inevitabilidade da mudança de seu olhar diante de sua experiência no estrangeiro.
III. A partícula “Mas”, que inicia o segundo parágrafo, cria uma relação de oposição com o primeiro parágrafo, demonstrando os sentimentos ambíguos do personagem.
IV. Entre o primeiro e o segundo parágrafo, há uma relação de