Introdução a Santo Agostinho
1. AS CARACTERISTICAS DA FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO E A VIDA DA INTERIORIDADE.
0 pensamento patrístico encontra a sua sistematização e conclusão na grandiosa síntese filosófico‑teológico‑exegética de Santo Agostinho (354430), o maior pensador da Igreja antiga, nascido do selo da África latina.
Quando Agostinho se converte ao Cristianismo já tem uma rica experiência filosóficoreligiosa‑ Familiarizou‑se com o pensamento da antigüidade, sobretudo com os neoplatônicos, neopitagóricos e estóicos, com os epicúreos e acadêmicos especialmente através de Cícero; é Agostinho o canal que transmite uma parte do pensamento antigo ao medieval. Ele porém, diferentemente de Orígenes e de outros padres da Igreja grega, sabe transpor o antigo e inseri‑lo originalmente na nova experiência cristã.
0 sujeito humano é o ponto de partida do filosofar perene. Numa célebre passagem dos Solilóquios, à Razão que lhe indaga: "Que de sejais conhecer?", Agostinho responde: "Deus e a alma desejo conhecer". ‑ "Nada mais?" ‑ "Nada mais!".
Para Agostinho, formular o problema do homem é formular, ao mesmo tempo, o problema de Deus: o homem não é apreendido nas suas profundidades ontológicas enquanto não for apreendido pôr Deus, cujo problema é intrínseco ao problema que ele é a si mesmo. Sem que Agostinho se esqueça do mundo, concentra toda a sua vasta e profunda especulação sobre o homem e sobre Deus, problemas distintos mas não separáveis.
0 conhecimento da natureza diz respeito à ciência: à filosofia pertence o conhecimento do homem. A filosofia é reflexão do homem sobre o homem. É esta a característica cristã e humanística. da sua especulação, no sentido mais acentuado da palavra. Para Agostinho, a filosofia é antropologia. Mas está ele convencido que o homem não pode conhecer‑se sem Deus, pelo que o diálogo que o homem mantém consigo mesmo, contemporaneamente é diálogo com Deus. Se é assim, o de Deus não é um problema exterior; não é imposto ao homem pelo mundo