introdução do livro cidade de deus
Ele retrata sem nenhuma compaixão ou condescendência as trajetórias de Cabeleira, Bené e Zé Pequeno e, por meio destas histórias, representa a própria transformação do bairro neste intervalo temporal. Assim, desfilam em suas páginas os criminosos, os policiais corruptos, os habitantes da favela. O autor descreve minuciosamente a vida nesta localidade, como os crimes são perpetrados, como a violência se dissemina, enfim, os bastidores que nunca integram as notícias dos jornais.
Não há, de forma alguma, uma perspectiva dualista nesta trama. O trabalho aqui realizado é baseado em pesquisas exaustivas e no conhecimento de causa do próprio escritor, que passou sua vida na Cidade de Deus. Tudo é tão realista que, se ele desejasse compor sua obra no estilo não ficcional, com certeza poderia ter produzido uma tese antropológica. A maior parte dos dados utilizados neste livro foi colhido pelo autor entre 1986 e 1993, quando ele atuou como assessor de pesquisas antropológicas sobre a criminalidade e as classes populares do Rio de Janeiro.
Com o objetivo de contrapor o contexto atual ao da fase romântica do bairro, quando ainda se podia ver a Cidade de Deus como uma favela no estilo tradicional, povoada elo samba e pelos malandros do morro, Paulo utiliza a expressão ‘neofavela’ para descrever o que se passa hoje neste local.
Outra característica importante de Cidade de Deus é o envolvimento inequívoco de todas as camadas sociais, da mais inferior à mais alta. Nenhuma classe está isenta de participação. As drogas descem do morro pelas mãos dos marginalizados da sociedade, e vão direto para o asfalto, ou seja,