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INTRODUÇÃOCecília Meireles (1901-1964) é a primeira grande escritora da literatura brasileira e, ao mesmo tempo, a mais conhecida autora da poesia moderna deste país. Começa a criar na década de 20, que foiuma época de grande revolução na poesia brasileira, no entanto a poetisa não se identifica com os princípios do movimento modernista e só mais tarde adopta algumas conquistas do modernismo, como é, por exemplo, o uso do verso livre. Esse esquivamento aos padrões válidos na altura faz dela uma poetisa única e excepcional, que vai ser apreciada ainda mais com o passar dos anos.
A obra poética ceciliana é tão extensa, que seria impossível fazer um estudo pormenorizado de tempo que abrangesse todas as suas coletâneas num trabalho como este, cujas proporções são limitadas. Isto obrigou-me àrestrição do conteúdo, mas, como não quis prejudicar a forma com uma análise superficial de toda a sua obra poética, resolvi dirigir a minha atenção para as coletâneas escolhidas que eu considero mais relevantes para o estudo do tema.
1- Motivo
Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.
Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Cecília Meireles
2-Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles
3-Lua Adversa
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida, fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!