interpretação
Férias escolares sempre foram motivo de alegria para o pequeno garoto da casa 15, fundos. Filho único de pais separados, sua maior diversão era jogar bola com os amigos, na velha rua sem saída daquela pequena e pacata cidade do interior mineiro. Sua maior companheira, tanto em na rua quando em casa, era a bola de salão que seu pai havia deixado para trás quando deixou sua casa para tentar uma vida melhor na capital mineira; uma bola velha e rasgada pelas pancadas dos profissionais, mas nova nos pés do guri.
Suas roupas não eram novas, seu tênis, de tão usado, parecia um trapo, e mesmo diante de tantas dificuldades, a hora do futebol era sagrada. Com os amigos a jogar, Pedrinho se esquecia de tudo: mãe, casa, almoço. Até de seu pai, que lhe deixara a bola, ele esquecia. Porém, era nos dias de chuva que seu pai mais fazia falta. Sem poder jogar bola ou sair de casa, Pedrinho só tinha três opções: estudar, ajudar sua mãe ou assistir televisão. A terceira opção sempre era a mais desejada, no entanto, sua mãe era enérgica quando estipulava os horários, e como não exigia a ajuda nas tarefas, sobrava somente a primeira opção, aquela que nenhuma criança tem prazer em fazer durante as férias.
- Estudar, mãe? – dizia ele. – Estou de férias, não quero estudar.
- Não tem mais nem menos. – respondia. – O ano ainda não acabou e você está fraco em matemática.
- Mãe…
- Pedro. – disse, ao sentar-se ao seu lado. – Não me importo que você fique o dia inteiro brincando com seu amigos quando está um dia bonito lá fora, mas, em dias como este, é bom você manter a atenção nos estudos. Vamos, meu filho, suba e estude um pouco de divisão, depois eu preparo um lanche pra você ver televisão o resto da tarde.
- O resto da tarde? – perguntava, com os olhos arregalados de felicidade.
- Sim, o resto da tarde.
Todo animado, Pedrinho correu escada acima, sua mãe, ao longe, quase gritando, dizia: Não suba correndo! Mas antes que o