Interpretação psicanalítica do filme central do brasil sob o vértice do trauma
Waldemar Zusman
FILME: CENTRAL DO BRASIL - OS TRAUMAS DE DORA E JOSUÉ
Central do Brasil é um filme que se presta ao exame do fenômeno do trauma psíquico e de seus desdobramentos por um vértice psicanalítico. As duas figuras centrais do filme - Dora e Josué - são vítimas de situações traumáticas, ambas relacionadas com a ausência do pai, cada uma a seu modo. Ainda que distintas, elas, em certos momentos, se confundem. Caminham juntas até um desfecho final, que devolve a seus personagens uma certa dignidade e um certo reencontro com a plenitude de sua condição humana.
Josué tinha 9 anos e queria conhecer Jesus, o pai que jamais vira, pois ainda estava na barriga de Ana, sua mãe, quando ela abandonou o marido e veio para o Rio de Janeiro, fugindo de um convívio insuportável.
Foi na companhia de Ana que Josué conheceu Dora, uma mulher de seus cinqüenta e poucos anos, escrevedora de cartas, professora primária, aposentada, que montava diariamente sua mesinha de trabalho na imensa e tumultuada gare da Central do Brasil, onde se punha à disposição dos analfabetos saudosos e carentes de uma comunicação com pessoas de quem estavam distanciados.
Cada um ditava sua carta, que ela escrevia e se comprometia a postar. Ela própria, no entanto, era também, uma dessas pessoas solitárias, carentes e saudosas como as que emergiam da multidão e vinham à sua mesa, ditar uma carta.
Dora, no entanto, não tinha para quem escrever. Sua mãe havia morrido quando ela tinha 9 anos, pouco depois do pai ter abandonado o lar. Ele era maquinista e ela ainda se lembrava, emocionada, do dia em ele a levou na cabine de comando do trem e deixou que ela tocasse o apito da locomotiva ao longo de uma de suas cotidianas viagens de trabalho.Tal como Josué ela também ansiava por encontrar o pai, a quem já não via desde pequena. Depois de