Interpretação do poema Amar, de Carlos Drummond de Andrade
Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? amar o que o amar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? O mar simboliza uma situação de ambivalência, que é a de incerteza, de dúvida, de indecisão e que pode se concluir bem ou mal. Vem daí que o mar é ao mesmo tempo a imagem da vida e a imagem da morte. A palavra sal apresenta um fio semântico muito expressivo no poema. Neste caso, sal é antítese do amor representando amargura.
Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
A palavra deserto também comporta ambivalência. Representa uma simples imagem da solidão.
Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor.
“Este o nosso destino: amor sem conta”, ou seja, doar a esse amor irrefreavelmente, porém nunca tê-lo de forma absoluta, pois ele é perecível como o tempo. A palavra concha sua forma e sua profundidade lembram o órgão sexual feminino, mas a “concha” está ligada também à ideia de morte pelo fato de ser a prosperidade que ela simboliza.
Amar