Internação
Este artigo aponta para algumas questões colocadas na articulação dos saberes médicos e jurídicos, expressas aqui pela conjugação desses saberes na internação psiquiátrica de adolescentes usuários de drogas ilícitas por determinação judicial. Um dos apontamentos relevantes é a constatação de uma política de "apagar incêndios", uma vez que a internação psiquiátrica por ordem judicial acaba convocando sempre a mesma categoria: a dos adolescentes em situação de marginalidade social, em conflito com a lei, usuários de drogas, geralmente o "crack". Esses jovens freqüentemente são reinternados - o que revela a ineficácia desse tipo de intervenção.
Acreditamos, não obstante, que aqui estão presentes importantes indicadores sociais que poderiam ser usados em termos de ações preventivas junto à população juvenil no campo das políticas públicas: situação de pobreza, consumo de drogas e exclusão escolar. São fatores que, associados, indicam um rumo fácil para seguir na via do tráfico de drogas, por exemplo.
Ao mesmo tempo, percebemos que os jovens em questão, em nosso estudo, não se deram conta das semelhanças dos seus percursos - já que a marginalidade social é um aspecto comum nesses casos de internação psiquiátrica. Neste sentido, os adolescentes atribuem a si mesmos o "fracasso" do seu próprio "destino", e o próprio tratamento que recebem é direcionado também para o âmbito individual. Esse modo de subjetivação, presente no olhar dos adolescentes em relação a si e na forma como eles são atendidos pelos sistemas de saúde e de justiça, revela a "supremacia da individualidade", naturalizada nos modos de existência na contemporaneidade. Entretanto, colocamos em questão se não seria justamente no esforço coletivo - em termos de políticas públicas, de práticas de atendimento nos sistemas de saúde, de justiça, de escolas e de outros instrumentos - que reside a possibilidade de tornar essas intervenções mais eficazes no combate ao envolvimento desses