Inglaterra moderna
Procuramos mostrar, neste capítulo, que a crise do absolutismo real inglês foi decorrência das grandes transformações sociais ocorridas na Inglaterra moderna na passagem do século XVI para o século XVII.
Como sabemos, o absolutismo surgiu e se institucionalizou após a dissolução do feudalismo, quando nem a nobreza enfraquecida nem a incipiente burguesia tiveram força suficiente para frear o fortalecimento do poder dos reis. Ao longo do século XVI, os reis concentraram mais poderes e se transformaram em monarcas absolutos com a dupla função de ordenar a vida social e mediar os conflitos de interesses entre a nobreza enfraquecida e a burguesia emergente. É preciso assinalar que, no início do período moderno, o absolutismo real apareceu como algo natural e aceito por praticamente toda a sociedade, apesar de algumas vozes discordantes.
Nestas condições iniciais, o relativo equilíbrio entre a nobreza decaída e a burguesia emergente foi a base de sustentação do absolutismo real (ELIAS, 1990). No entanto, com a transformação da sociedade o equilíbrio social se rompeu em favor da burguesia e de setores da própria nobreza que se aburguesaram e se adaptaram aos novos tempos. A partir desse momento, o poder absoluto do rei deixou de ser visto como algo natural e necessário para mediar a vida econômica, social, política e religiosa da nação. Estavam dadas, assim, as condições para a crítica política do absolutismo e para a deposição do rei. Na Inglaterra moderna, em linhas gerais, a institucionalização e a crise do absolutismo real desenvolveram-se dessa forma.
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1. O ABSOLUTISMO NO SÉCULO XVI
No século XVI, quando os monarcas ingleses, seus ministros e conselheiros invocavam a doutrina do Direito Divino[3] dos reis para legitimar os atos reais, não provocavam uma reação popular generalizada, apesar da tradicional antipatia dos ingleses por qualquer