Ines d'minhaalma

20919 palavras 84 páginas
CAPÍTULO UM
Crónicas de dona Inés Suárez, entregues à Igreja dos Dominicanos para sua conservação e resguardo pela sua filha, dona Isabel de Quiroga, no mês de Dezembro do ano de Nosso Senhor de 1580. Santiago da Nova Extremadura. Reino do Chile. Meu none é Inés Suárez, habitante da leal cidade de Santiago de Nova Extremadura, no Reino do Chile, neste ano de Nosso Senhor de 1580. Não tenho certeza da data exacta do meu nascimento, mas a minha mãe assegura que nasci depois da grande fome e do tremendo surto de peste que assolou a Espanha logo após a morte de Filipe, o Belo. Não creio que tenha sido a morte do rei a provocar a peste, como aliás dizia o povo ao ver passar o cortejo fúnebre que deixou no ar, durante dias, um aroma a amêndoas amargas, mas nunca se sabe. A rainha Joana, ainda uma jovem e bela mulher, percorreu Castela durante mais de dois anos, transportando o esquife de um lado para o outro, abrindo-o de vez em quando para beijar os lábios do marido, na vã esperança de que pudesse ressuscitar. Apesar dos unguentos do embalsamador, o Belo fedia. Quando eu vim ao mundo, já a infeliz rainha, louca de todo, estava recolhida no palácio de Tordesilhas com o cadáver do seu consorte; o que significa que tenho, pelo menos, setenta Invernos às costas e que hei-de morrer antes do Natal. Podia dizer-vos que, nas margens do rio Jerte, uma cigana adivinhou a data da minha morte, mas essa seria uma daquelas mentiras que se costumam espetar nos livros e, que por estarem impressas, parecem verdadeiras. A cigana só me augurou uma vida longa, que é o que sempre nos dizem em troco de uma moeda. O que me anuncia a proximidade do fim é o meu coração desordenado. Sempre soube que havia de morrer velha, em paz e na minha cama, como morrem todas as mulheres da minha família; por isso não vacilei quando precisei de enfrentar o perigo, já que ninguém se vai deste mundo antes da sua hora. «Tu vais morrer de velhinha, de nada mais, senoray», tranquilizava-me

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